Contato Forçado

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Por favor, assine a petição pela proteção dos povos indígenas isolados.
 
Esses povos não possuem imunidade contra doenças comuns de sociedades não-indígenas, e por essa razão são tão vulneráveis. É comum que metade de um grupo seja dizimada no período de um ano após o primeiro contato, em decorrência de doenças como o sarampo e a gripe.
 
No Brasil, por exemplo, os Matis foram reduzidos pela metade após o contato quando jovens e idosos, incluindo a maioria dos xamãs, morreram de doenças introduzidas pelos invasores não-indígenas. Eles recordam o impacto devastador do primeiro contato.
 
Confrontos violentos são um dos resultados mais comuns das atividades de exploração de recursos em áreas onde os povos isolados vivem. Esses conflitos já resultaram na morte de alguns invasores e de muitos indígenas. Os últimos quatro sobreviventes do povo Akuntsu testemunharam o massacre de seus companheiros, viram suas casas sendo demolidas por fazendeiros e quase foram mortos após sofrerem ataques brutais. 
 
Expedições de contato forçado foram a política oficial no Brasil por décadas, mas levaram à aniquilação de inúmeros povos. Essa devastação levou a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) a adotar, no final da década de 1980, uma nova política de proteção às terras dos povos indígenas isolados em vez de forçar o contato.
 
Em fevereiro de 2020, o governo Bolsonaro nomeou um missionário evangélico, Ricardo Lopes Dias, para comandar a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai. Ele foi retirado do cargo em novembro do mesmo ano.
 
O senhor Lopes Dias trabalhou por muitos anos com uma organização missionária fundamentalista dos Estados Unidos, a Missão Novas Tribos (MNT), agora chamada de Ethnos 360. No Brasil são chamados de Missão Novas Tribos do Brasil. A Missão Novas Tribos é conhecida em todo o mundo por suas tentativas de forçar o contato e evangelizar povos indígenas isolados. É uma das organizações missionárias mais extremistas, cujas missões no Paraguai levaram a várias mortes durante as décadas de 1970 e 1980.
 
No Paraguai, um grupo de missionários da MNT se empenhou para encontrar o povo indígena isolado Ayoreo-Totobiegosode. Na década de 70, eles organizaram caçadas para forçá-los a sair da floresta. Essa ação envolveu violentos confrontos que causaram a morte de vários indígenas e a destruição de todo um modo de vida. Os Ayoreo que sobreviveram foram expulsos da floresta e forçados a abandonar seu modo de vida nômade. Em um processo conhecido por muitos como etnocídio, eles foram sedentarizados à força, tiveram seus cabelos cortados, forçados a renunciar a suas crenças, forçados a viver e a trabalhar nos assentamentos missionários, vestindo roupas “ocidentais”. Apenas alguns conseguiram escapar da captura e acredita-se que hoje vivam fugindo de madeireiros na floresta.
 
As comunidades que viveram essa violência ainda estão lutando para se recuperar e ainda estão tentando recuperar seu território. Chagabi, um ativista e líder Totobiegosode, já falecido, viveu os ataques da MNT quando criança.
 
Histórias de atos cruéis praticados por missionários da MNT estão por toda parte. No Brasil, missionários da MNT entraram em contato com os Zo’e à força na década de 1980 e, logo depois, um quarto deles morreu de doenças. Entre 2010 e 2012, 96 desses mesmos Zo’e foram supostamente escravizados por missionários da MNT, obrigados a coletar castanhas-do-pará na floresta em troca de roupas velhas, panelas e outros produtos industriais.
 
Argumento enganoso
Em 2015, os professores estadunidenses Robert S. Walker e Kim R. Hill publicaram um editorial perigoso e enganoso na revista Science. Eles alegaram que os indígenas isolados deveriam ser contatados pelo seu próprio bem, ignorando séculos de devastação causada pelo contato forçado. Doenças e violência destruíram povos inteiros logo após o primeiro contato e reduziram outros a apenas alguns sobreviventes.
Esses antropólogos afirmaram que “um contato bem planejado pode ser bastante seguro,” mas os exemplos escolhidos para ilustrar seu argumento na verdade deixaram muitos indígenas mortos.
 
Eles também argumentaram que a existência de indígenas isolados “não é viável a longo prazo.” Mas existem mais de cem povos isolados ao redor do mundo e onde suas terras são protegidas, eles prosperam.
 
Os argumentos de Hill e Walker, e de outros defensores do contato forçado, agradam aqueles que querem roubar as terras indígenas em nome do “progresso” e da “civilização”, dos que querem abrir a Amazônia para a extração de recursos.
 
Indígenas e especialistas em todo o mundo criticaram duramente as ideias de Hill e Walker por serem “arrogantes”, “perigosas” e “genocidas”.
Olímpio Guajajara, do povo Guajajara, disse: “Estamos sabendo que alguns antropólogos querem fazer o “contato controlado” com os índios isolados… Não vamos permitir que isso aconteça, porque é mais um genocídio… de um povo indígena que não quer o contato.”
 
Forçar o contato com indígenas isolados é sempre fatal e a iniciativa, se houver, deve ser da livre escolha dos próprios indígenas. Aqueles que entram em seus territórios os negam essa chance.
 
Como protegê-los?
Os povos indígenas isolados prosperam quando suas terras são protegidas. 
 
A Survival está fazendo todo o possível para garantir a proteção das terras desses povos, e assim permitir que determinem seus próprios futuros.
 
Eles frequentemente mostram que não querem contato– apontando flechas na direção de aviões que passam sobre seus territórios, deixando lanças cruzadas na floresta, e com outros sinais –, e aqueles que o impõem ameaçam sua sobrevivência.
 
A decisão desses indígenas de não manter contato com outros grupos e com não-indígenas é possivelmente resultado de violentos encontros anteriores e da contínua invasão e destruição de sua floresta. Por exemplo, o grupo de isolados que hoje vivem no estado do Acre são provavelmente os sobreviventes do ciclo da borracha, quando muitos indígenas foram escravizados e mortos.
 
Todos são extremamente vulneráveis a doenças comuns, pois eles não possuem resistência imunológica. Doenças levadas por pessoas de fora, como a gripe ou o resfriado, podem matar esses indígenas. Por isso, a chave para parar a aniquilação dos povos indígenas é proteger seus direitos territoriais – consagrados no direito nacional e internacional. Todos os povos isolados enfrentam uma catástrofe, a não ser que suas terras sejam protegidas de invasores.
 
Desde 1987, a FUNAI tem um departamento dedicado aos povos indígenas isolados, cuja política é fazer contato somente nos casos em que sua sobrevivência está em risco iminente.
 
Caso contrário, nenhuma tentativa de contato é feita. Em vez disso, a FUNAI busca demarcar e proteger as terras de invasores através da instalação de postos de proteção em regiões próximas.
 
Porém, essa política de não contato forçado está ameaçada pelo governo anti-indígena de Bolsonaro e seus aliados. Eles também enfrentam a violência de invasores ilegais que destroem suas florestas e os matam. 
 
Desde 1969, a Survival luta juntos dos povos indígenas defender suas vidas, proteger suas terras e determinar seus próprios futuros.
 
Saiba como você pode ajudar:
- Assine a petição pela proteção dos povos indígenas isolados;

- Assine a petição global contra o genocídio indígena;

- Envie um email às autoridades brasileiras pressionando-as a ajudar os Guardiões da Amazônia a protegerem os Awá isolados;

- Envie um email para o governo pedindo que eles expulsem os garimpeiros que exploram a Terra Indígena Yanomami e proteja os indígenas isolados.

 
Leia mais:
- Editorial da revista Science (em inglês)
- Survival ataca o editorial da Science 
- Povos indígenas rejeitam chamados para o contato forçado
- Organizações indígenas rejeitam os argumentos de Hill e Walker
- Especialistas da FUNAI criticam a proposta de Hill e Walker
 

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