Polêmico projeto de créditos de carbono usado pela Netflix e Meta é suspenso pela segunda vez

12 maio 2025

© Beckwith & Fisher

Indígena Maasai com seu gado, Quênia.

Um controverso projeto de créditos de carbono, que ameaça indígenas no Quênia, foi suspenso pela segunda vez pela Verra, o principal órgão que certifica projetos deste tipo. É uma denúncia sem precedentes do projeto e destaca as repetidas falhas da Verra.

O projeto da NRT (Northern Rangelands Trust) é considerado o maior esquema de carbono do solo do mundo. Há muitos anos ele está rodeado de controvérsias, pois restringe severamente as práticas tradicionais de pastagem de indígenas dos povos Maasai, Borana, Samburu e outros povos cujas terras foram usadas para gerar os créditos. Tanto a Netflix quanto a Meta compraram créditos de carbono desse projeto.

Em janeiro, um tribunal do Quênia deliberou que duas das maiores áreas de conservação criadas pela Northern Rangelands Trust (NRT) foram estabelecidas de forma inconstitucional, sem base legal. Uma delas, a Biliqo Bulesa, contribui com cerca de 20% dos créditos de carbono do projeto. A decisão pode ser aplicada a metade das outras áreas de conservação da NRT.

Há dois anos, a Survival publicou o estudo intitulado “Carbono de sangue: como um projeto de compensação de carbono ganha milhões com terras indígenas no norte do Quênia”, que apresentou duras críticas ao projeto da NRT.

A primeira revisão e consequente suspensão do projeto pela Verra em 2023, ocorreu após a publicação do estudo da Survival, mas a revisão da Verra falhou gravemente ao não investigar os fatos propriamente.

Em uma entrevista publicada no jornal de notícias estadunidense The Wall Street Journal, Hassan Bidhu, um dos requerentes no processo judicial, disse: “O projeto destruiu completamente o sistema tradicional [de pasto] e trouxe outro, que é como um despejo”.

De acordo com o The Wall Street Journal, a NRT vendeu mais de 6 milhões de créditos de carbono, que valem entre 42 milhões e 90 milhões de dólares, dependendo do valor de mercado. 

A diretora da Survival International, Caroline Pearce, disse hoje: “Desde o início, o projeto de créditos de carbono da NRT violou direitos indígenas, mas agora se tornou um fiasco completo. É impossível entender como o projeto foi aprovado pela Verra, e agora deve ser cancelado de uma vez por todas - assim como a ideia de violar direitos indígenas para gerar créditos de carbono."

“Os direitos territoriais dos Maasai, Borana, Samburu e outros povos indígenas deveriam ser finalmente reconhecidos em sua totalidade. Isso seria, finalmente, justiça para eles e a melhor maneira de proteger a savana da África Oriental.”

Maasai
Povo

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