Indígenas desafiam garimpeiros – “Nossa vida depende da vida da terra e da floresta”

1 novembro 2017

Os Wajãpi organizaram protestos contra projetos em sua terra ©  Survival

Esta página foi criada em 2017 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Os Wajãpi, no Amapá, desafiaram o governo para defender seus direitos territoriais.

Eles publicaram uma forte carta aberta dizendo: “Somos contra a mineração porque queremos defender a terra e a floresta. No nosso conhecimento, a terra também é gente.”

A carta foi escrita em resposta à tentativa do governo brasileiro em abrir uma área próxima do território Wajãpi na Amazônia, conhecida como RENCA, à mineração em grande escala. Após uma mobilização global por povos indígenas e milhares de pessoas ao redor do mundo, o governo voltou atrás.

No entanto, considerando a grande influência da poderosa bancada ruralista, os Wajãpi estão em alerta. Na carta, eles afirmam que irão defender seu território a todo custo contra os interesses mineradores.

Os indígenas afirmam que a mineração não os beneficiariam. Eles estão preocupados com conflitos e doenças trazidas pelo aumento no fluxo de forasteiros, e a abertura de sua terra a interesses econômicos destrutivos como usinas hidrelétricas, agropecuária e garimpo.

Este pequeno povo indígena da Amazônia conhece os impactos devastadores de estradas e da mineração. Contatos esporádicos com caçadores de felinos selvagens e com grupos de garimpeiros procurando ouro na segunda parte do século passado introduziram doenças fatais como o sarampo, ao qual os Wajãpi isolados não tinham resistência. Como resultado, muitos morreram.

Em 1973, a FUNAI decidiu contatar os Wajãpi pois o governo militar do país queria construir uma estrada em sua terra.

No momento do contato, os Wajãpi eram apenas 150 indivíduos e pareciam estar à beira da extinção. No entanto, eles provaram ser extremamente resilientes e hoje são mais de 1200 pessoas.

Eles estabeleceram suas próprias organizações, expulsaram os garimpeiros que trabalhavam ilegalmente em sua terra, e treinaram seus agentes de saúde e professores a trabalhar nas comunidades.

Alguns membros do grupo fizeram filmes inovadores documentando sua campanha por direitos territoriais. Alguns viajaram ao exterior para angariar apoio internacional, e suas comunidades fisicamente mapearam suas terras, que foram finalmente reconhecidas pelo governo em 1996. Desde então, eles ocupam todas as regiões dentro do território para protegê-lo de invasões.

A carta salienta seu forte sentimento de coesão: “Nós Wajãpi temos uma cultura muito forte, que queremos continuar valorizando e transmitindo para nossas gerações futuras.”

Eventos importantes no calendário, como a desova de peixes e a colheita de mel, são celebradas com cerimônias onde todas as gerações se juntam para dançar, acompanhadas de flauta, e para o consumo de caxiri, uma bebida feita com mandioca fermentada. Como muitos povos indígenas, seu conhecimento botânico é imenso – eles cultivam mais de 15 tipos de mandioca selvagem e 5 tipos de milho.

Em 2008, a UNESCO reconheceu as expressões gráficas dos Wajãpi, que eles chamam de kusiwa, como “Patrimônio Imaterial da Humanidade.” É baseado no uso de pigmentos naturais de plantas, como a pasta vermelha de anato, que é usada para pintar designs complexos para o corpo e para decorar objetos como cestas.

No entanto, a pressão interna e internacional é fundamental para apoiar os Wajãpi na sua luta contínua para defender seus direitos à medida que enfrentam ameaças crescentes de invasão a sua terra, de im Congresso hostil e de um governo comprometido em enfraquecer os direitos indígenas no Brasil.

Sua carta termina com um apelo a todos aqueles preocupados com a destruição da Amazônia para que os apoiem. Os leitores podem mobilizar-se participando da campanha da Survival aqui.

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