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Cinco anos após morte de Paulo Guajajara, assassinos seguem em liberdade

24 outubro 2024

Paulo Guajajara, também conhecido como “Lobo”, foi morto por madeireiros ilegais em uma emboscada. © S Shenker/Survival International

Cinco anos após o assassinato de Paulo Paulino Guajajara, sua família ainda espera por justiça. Paulo era um Guardião Guajajara e foi morto a tiros por madeireiros ilegais que invadiram seu território, a Terra Indígena Arariboia, no Maranhão.

O assassinato de Paulo foi amplamente coberto pela imprensa mundial, porém, apesar do clamor global, os assassinos foram acusados mas ainda não foram julgados. Os dois acusados, Antônio Wesly Nascimento Coelho e Raimundo Nonato Ferreira de Sousa, seguem em liberdade.

Paulo, conhecido também como Kwahu Tenetehar, foi baleado no pescoço e morreu na floresta após uma emboscada de madeireiros ilegais. Seu colega, Tainaky Tenetehar, também Guardião, foi baleado nas costas e no braço, mas escapou.

Há mais de 15 anos, os Guardiões Guajajara patrulham e protegem seu território, que já foi e ainda é alvo de invasão por madeireiros e caçadores ilegais. A Terra Indígena Arariboia também é o lar de indígenas isolados do povo Awá e é uma das últimas áreas de floresta restantes naquela região do estado do Maranhão.

Os Guardiões Guajajara: Tainaky Tenetehar (à esquerda), Paulo Paulino Guajajara (centro) e Olimpio Guajajara (à direita) durante uma operação para destruir um acampamento ilegal. Paulo foi morto a tiros em novembro de 2019, Tainaky ficou ferido.

Pelo menos seis Guardiões já foram assassinados e muitos de seus parentes foram mortos a tiros, enquanto madeireiros e grileiros invadem seu território. Ameaças de morte também são frequentes.

Há anos a Survival tem apoiado o trabalho dos Guardiões. A pesquisadora e ativista da Survival, Sarah Shenker, que acompanhou os Guardiões em uma de suas operações, disse há cinco anos:

“Kwahu era completamente dedicado a defender sua floresta e seus parentes isolados, apesar dos riscos. Ele também era uma das pessoas mais humildes que já conheci. Ele sabia que poderia pagar com a vida, mas não viu outra saída, pois as autoridades não fizeram nada para proteger a floresta e garantir o direito dos indígenas de viverem livres em sua terra.”

Seus amigos e colegas fizeram uma emocionante homenagem a ele neste vídeo.

Após anos de pressão dos Guardiões e de seus aliados, as autoridades finalmente deram início à construção de uma base de proteção territorial em Arariboia, para apoiar o trabalho de monitoramento e prevenir novas invasões.

Em uma declaração para marcar os cinco anos do assassinato de Paulo, os Guardiões disseram:

“Sentimos a ansiedade por parte do povo Guajajara da continuidade dessa impunidade dos assassinos de seus membros e especialmente do guerreiro Paulo Paulino que constantemente sua memória é feita para enfatizar a luta do seu povo pela proteção ao território ancestral. Os Guardiões se preparam para realizar também ato sobre esse marco de 5 anos de impunidade e nos somamos com a Survival para esse momento de denúncia e exigência do direito do povo Guajajara a ter os responsáveis pelo assassinato de Paulo Paulino devidamente julgados e condenados.”

Fiona Watson, Diretora de Pesquisa e Campanhas da Survival International, disse hoje:

“Há cinco anos atrás, Paulo pagou com sua vida por proteger seu território e os indígenas que vivem e dependem dela. Sua morte se soma à longa lista de indígenas assassinados todos os anos por defender suas terras no Brasil – e as mortes persistem porque os criminosos sabem que é improvável que algum dia enfrentarão a justiça. O governo faz belos discursos sobre a necessidade de proteger o que resta da Amazônia – mas as pessoas que a defendem, que estão na linha de frente dessa luta, estão sacrificando suas vidas enquanto a floresta é destruída ao redor delas. Por quanto tempo mais essa injustiça continuará?”

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