Missionário é forçado a sair da Coordenação de Indígenas Isolados da FUNAI, pela segunda vez

27 novembro 2020

O missionário evangélico Ricardo Lopes Dias foi afastado do cargo de Coordenador Geral do departamento de Índios Isolados e de Recente Contato – pela segunda vez. © Ricardo Lopes Dias

Esta página foi criada em 2020 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Ricardo Lopes Dias, um missionário evangélico, foi retirado pela segunda vez do cargo de Coordenador Geral do departamento de Índios Isolados e de Recente Contato da FUNAI.

Indígenas da UNIVAJA, União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, que tem lutado contra sua nomeação desde o início, comemoraram seu afastamento. Na primeira vez que Lopes Dias foi afastado do cargo, Beto Marubo da UNIVAJA comentou: “Os povos indígenas do Vale do Javari persistem na afirmação de que é nefasta a atuação de um missionário na CGIIRC [Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato], e esperam que essa seja uma decisão definitiva. A justiça brasileira tem de reconhecer tamanha incoerência, pois são circunstâncias completamente incompatíveis.”

Leonardo Lenin, Secretário Executivo do Opi – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato – disse hoje: “Um missionário fundamentalista à frente da coordenação de índios isolados da Funai foi antes de tudo uma afronta à autodeterminação desses povos. Em diversas ocasiões ficou evidente a inépcia do Sr Ricardo Lopes a na política pública para índios isolados. O exemplo disso foi a forma caótica que coordenou os trabalhos de prevenção ao COVID-19 em relação aos povos indígenas isolados e recente contato. Fica ainda mais evidente que é necessário alguém com conhecimento indigenista específico nessa área e que respeite as leis e normas que protegem os direitos desses povos”.

Sua nomeação no começo do ano foi extremamente controversa e foi descrita pela ativista da Survival, Sarah Shenker, “como colocar uma raposa no galinheiro”. Lopes Dias trabalhou muitos anos com a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), agora conhecida também como Ethnos360 nos Estados Unidos.

Fontes disseram à Survival que havia uma ira generalizada na FUNAI contra a nomeação de um missionário fundamentalista para o cargo, além de muitas acusações de incompetência e arrogância.

A Missão Novas Tribos do Brasil divulgou a compra de um novo helicóptero para alcançar povos indígenas isolados no Vale do Javari no início deste ano. © NTM

Missionários evangélicos intensificaram seus esforços para contatar povos indígenas isolados sob o governo do presidente Bolsonaro. Com apoio da bancada evangélica, ele está pressionando o Congresso para abrir as terras indígenas à exploração comercial. Em muitas partes do Brasil, as terras dos povos indígenas isolados são as últimas áreas significativas que ainda restam da floresta tropical. Agora elas estão sendo alvos de grileiros, madeireiros, fazendeiros e garimpeiros que estão destruindo a floresta a ritmos alarmantes e ameaçando a sobrevivência dos indígenas isolados

Uma testemunha da FUNAI revelou em setembro que o Ricardo Lopes Dias tentou promover uma missão, sem comunicação prévia e sem realizar quarentena, no Vale do Javari, lar de mais povos indígenas isolados do que qualquer outro lugar do planeta.

Um grupo de indígenas isolados no Brasil vista do ar durante uma expedição do governo brasileiro em 2010. © G.Miranda/FUNAI/Survival

Após pressão do Ministério Público Federal e da UNIVAJA, um juiz decidiu em maio que a nomeação de Lopes Dias era uma “flagrante violação ao princípio da autodeterminação dos povos indígenas” e que ele deveria ser destituído do cargo imediatamente. Essa decisão foi posteriormente anulada.

Sarah Shenker, coordenadora da campanha da Survival pela proteção das terras dos povos indígenas isolados, disse hoje: “A exoneração de Ricardo Lopes Dias é uma grande vitória para a mobilização para retira-lo do cargo e para a proteção das terras dos povos indígenas isolados. Organizações indígenas e seus aliados lideraram o ataque contra sua presença na FUNAI.”

“A Survival e seus apoiadores têm pressionam as autoridades desde o dia em que Ricardo Lopes Dias foi nomeado, no início do ano. Estaremos observando de perto para ver o que vem por aí, e continuaremos a lutar para que as terras dos povos indígenas isolados sejam protegidas e seu direito de viver da maneira que escolherem seja respeitado, sempre. Esperamos que Bolsonaro receba a mensagem de que, se continuar com sua agenda genocida, haverá resistência.”

Estão disponíveis para entrevistas a UNIVAJA, Leonardo Lenin do Opi, Sarah Shenker e Fiona Watson da Survival.

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