Progresso pode Matar: relatório da Survival revela maior taxa de suicídio do mundo

11 janeiro 2016

Às vezes, o suicídio é visto como a única opção entre indígenas forçados de suas terras © João Ripper/Survival

Esta página foi criada em 2016 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Um novo relatório publicado pela Survival International revela que a taxa de suicídio chocante entre os indígenas Guarani Kaiowá no sul do Brasil é a taxa mais alta do mundo.

A taxa de mortes auto-infligidas na tribo é pelo menos 34 vezes maior do que a média nacional brasileira e, estatisticamente, é a taxa mais alta entre todas as sociedades no mundo.

As taxas de suicídio entre muitos outros povos indígenas, como os aborígenes australianos e os indígenas no Alasca, também continuam a ser excepcionalmente elevadas. Isto pode ser visto como o resultado inevitável do roubo histórico de suas terras que ainda continua, e o processo de “desenvolvimento” que está forçado nestes povos.

O relatório, ‘Progresso pode Matar’, expõe as consequências devastadoras da perda dos direitos à terra e autonomia nos povos indígenas. Bem como as taxas chocantes de suicídio, a pesquisa também revela altos índices de alcoolismo, obesidade, depressão e outros problemas de saúde entre as tribos.

Outras estatísticas marcantes incluem a taxa da infecção pelo HIV na Papua Ocidental, que está crescendo rapidamente. No ano 2000, houve quase nenhum caso de HIV na população, porem em 2015 tinha mais de 10.000. Ainda mais, o estudo revelou que a taxa de mortalidade infantil entre os aborígines australianos é duas vezes maior que em toda a sociedade australiana.

Entre muitas tribos ao redor do mundo, a desnutrição continua a causar mais problemas ainda. Por exemplo, a fome entre crianças Guarani no Brasil, que são forçadas a viver na beira das estradas, e a obesidade sofrida por muitos índios norte-americanos, para quem a comida processada e barata é a única opção viável.

Muitos Aché morreram de fome após terem sido forçados de sua floresta no Paraguai © Don McCullin/Survival

Roy Sesana, dos bosquímanos de Botsuana que foram expulsos de suas terras em 2002, disse: “Que tipo de desenvolvimento é esse no qual as pessoas vivem menos tempo do que antes? Eles contraem HIV/AIDS. Nossos filhos são espancados na escola e deixam de ir. Alguns se prostituem. São proibidos de caçar. Brigam porque estão entediados e se embebedam. Estão começando a se suicidar. Nunca tínhamos visto isso antes. É este o “desenvolvimento”?”

Olimpio, da tribo Guajajara na Amazônia maranhense, disse: "Somos contra o tipo de desenvolvimento que o governo propõe. Acho que sua ideia de “progresso” é uma loucura! Eles vêm com essas ideias agressivas de progresso e as forçam na gente, seres humanos, especialmente nos povos indígenas, os mais oprimidos de todos. Para a gente, isso não é progresso de jeito nenhum."

Todas as estatísticas demonstram as consequências fatais de forçar mudanças em sociedades indígenas em nome do “progresso” e “desenvolvimento”. Em muitos casos, as tribos foram forçadas a trocar fontes de alimentação abundantes e sustentáveis e uma forte identidade para a pobreza e a marginalização, à margem da sociedade nacional. As repercussões trágicas desta mudança forçada pode continuar a afetar várias gerações das tribos no futuro.

No mundo todo, tribos continuam a lutar pelo reconhecimento de seu direito de viver em suas terras em paz. Onde este direito tem sido respeitado ou restaurado, as tribos prosperam. Por exemplo, após a demarcação da terra indígena Yanomami no norte da Amazônia em 1992, equipes médicas começaram a trabalhar com os pajés e juntos reduziram a taxa de mortalidade entre os índios Yanomami pela metade. Da mesma forma, os Jarawa na Índia vivem em suas terras ancestrais e desfrutam de o que tem sido chamado de “vida de opulência”. Nutricionistas classificam sua dieta como “ótima”.

Survival International, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, está exigindo que a Organização das Nações Unidas imponha melhor proteção dos direitos territoriais das tribos e pressione governos para respeitar seus compromissos para suas comunidades indígenas.

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