Mais indígenas isolados surgem no Brasil – fugindo de ataques no Peru

14 agosto 2014

Várias semanas depois de sete indígenas isolados apareceram perto da fronteira Brasil-Peru, mais indígenas isolados fizeram o primeiro contato com agentes do governo brasileiro © FUNAI/Survival

Esta página foi criada em 2014 e talvez contenha linguagem obsoleta.

Peru é criticado por não proteger seus cidadãos mais vulneráveis

Uma segunda onda de indígenas isolados altamente vulneráveis fez contato com indígenas contatados e agentes do governo na Amazônia brasileira, apenas poucas semanas depois que especialistas brasileiros advertiram da possibilidade do “extermínio” do povo. Acredita-se que o grupo de cerca de duas dezenas de indígenas inclui homens, mulheres e crianças que relataram ter fugido de ataques de invasores no Peru.

De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, o estado de saúde deles é estável e estão residindo num posto de monitoramento da FUNAI (Fundação Nacional do Índio).

O contato segue um incidente semelhante no final de junho de 2014, quando sete indígenas isolados do mesmo povo entraram em contato com uma comunidade assentada de indígenas Ashaninka e agentes da FUNAI no Acre, perto da fronteira com o Peru. Os indígenas isolados receberam tratamento médico de emergência contra uma infecção respiratória e foram brevemente mantidos em “quarentena” antes de retornarem a sua comunidade na floresta.

Ativistas criticaram a falta de proteção da terra dos indígenas isolados no Peru. Os indígenas relataram que foram brutalmente atacados e que seus parentes mais velhos foram “massacrados” por invasores nas suas terras. As autoridades peruanas e brasileiras assinaram um acordo para trabalhar juntos para proteger a terra dos povos indígenas isolados desta área em março de 2014, mas madeireiros ilegais, traficantes de drogas e empresas de petróleo e gás continuam a colocar os indígenas isolados em risco extremo de violência e doenças.

Indígenas isolados fizeram o primeiro contato no final de junho de 2014, e foram tratados por uma infecção respiratória perigosa que poderia dizimar seu povo. © FUNAI/Survival

Um intérprete que acompanhou o primeiro contato disse: “A maioria dos idosos foram massacrados por não-indígenas no Peru, que dispararam contra eles e incendiaram as casas dos isolados. Eles disseram que muitos idosos morreram e que chegaram a enterrar até três pessoas em uma mesma fossa.”

Nixiwaka Yawanawá, um indígena do Acre, disse: "Estou triste de ver que meus parentes isolados estão ameaçados de extermínio, e que o Peru não conseguiu assumir a responsabilidade de proteger seus cidadãos. As autoridades brasileiras e peruanas devem fornecer os fundos necessários para proteger eles, enquanto ainda há tempo. Caso contrário, mais tribos inocentes serão eliminadas em plena vista do público internacional.”

Carlos Travassos, Coordenador do Departamento de Índios Isolados da FUNAI, disse ao Blog da Amazônia: “Talvez seja a última vez que estejamos vendo esses meninos, que amanhã podem estar mortos, seja por doenças ou tiros de espingarda.”

Povos indígenas isolados são as sociedades mais vulneráveis do planeta. Eles têm pouca ou nenhuma imunidade a doenças comuns como a gripe, resfriado ou sarampo e podem ser dizimados por epidemias ou violência de forasteiros em suas terras.

Desde o primeiro contato, mais de 11.000 pessoas já enviaram mensagens instando que o Peru e o Brasil protejam as terras com povos indígenas isolados como uma questão de urgência.

Stephen Corry, Diretor da Survival International, o movimento global para os direitos dos povos indígenas, disse hoje: “Os relatos apresentados por esses indígenas – a morte de seus parentes, e a queima de suas casas – foram incrivelmente inquietantes. Isso parece ter ocorrido no lado peruano da fronteira, provavelmente nas mãos de madeireiros ilegais e traficantes de drogas, cuja presença tem sido conhecida há anos. O que vai ser preciso para que o governo peruano realmente proteja o território desses povos corretamente?”

Nota para editores:
- Um vídeo do encontro no final de junho foi publicado no Blog da Amazônia.

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